JB Xavier

Uma viagem ao mundo mágico das artes!  A journey into the magical world of  the arts!

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A PAZ DO NATAL
J.B.XAVIER

Há uma velha piada que narra o cotidiano de uma família do sertão nordestino que todos os dias ia á missa das 18:00 horas rezar pela vinda da chuva. Num belo dia, receberam a visita de uma freira da cidade que era assistente social. Enquanto a freira examinava o estado de saúde da família, ela se preparava para ir à tal missa. A freira então pegou seu guarda-chuva e decidiu acompanha-los à igreja.
- Para que o guarda-chuva – perguntou o chefe da família. Há anos não chove por aqui...!
- Ué! – respondeu a freira – nós não vamos rezar para chover?

Essa anedota demonstra bem a diferença que há entre o discurso e a prática. Demonstra também a pouca fé que temos no que dizemos.

No ano passado, Exatamente nesta época do ano estávamos todos enviando mensagens de paz, amor e alegria.

Contos, crônicas, poesias e artigos foram escritos, ressaltando o surgimento de um novo milênio, cantando o amor e pregando a paz. Chegara a Era de Aquárius – diziam os astrólogos de plantão – uma era de progresso, de paz e felicidade.

E a realidade, o que nos mostrou? Recrudescimentos das relações internacionais, Angola esquecida, a fome grassando pelo planeta, violência pelas ruas de todas as cidades do mundo, assassinatos em massa, corpos despedaçados ns rodovias, milhares de pessoas volatilizadas instantaneamente no World Trade Center, israelenses e palestinos dirigidos por homens de cabelos brancos que não aprenderam durante suas longas vidas que o ódio é um monstro autofágico: ele se alimenta dele mesmo!


Todos os anos, pelo Natal, recebo mensagens que sequer estão assinadas. Ou seja, eu sou um “ninguém” no “mailing” de alguém. De verdade, esses enviadores de mensagens nem sabem quem sou, nem “se” ainda sou. Talvez eu já tenha morrido, mas continuarei a receber suas mensagens pontual e ininterruptamente.

Enviamos centenas de mensagens natalinas clamando por paz, mas não cumprimentamos o vizinho no elevador.

Clamamos por paz, mas não elogiamos um filho ou amigo pelas pequenas vitórias que conseguem. Esquecemos que no natal é a hora de desejar a paz, mas o resto do ano, é a hora de praticar a paz.

Ligamos a televisão para assistir avidamente notícias dos bombardeios ao Afeganistão. Entretanto se em minha tela aparecer Ruanda e suas crianças esquálidas e miseráveis, morrendo de inanição diante de nossos narizes, torcemos esse mesmo nariz insensível e chamamos a imprensa de manipuladores, ou, quando muito, doamos alguns trocados ou alguns agasalhos para a campanha da vez.

Doamos a moeda aos miseráveis pedintes nos semáforos porque as temos sobrando em alguma algibeira. Doamos agasalhos porque os temos já fora de moda, ou rotos, ou simplesmente por não gostarmos dele. Doamos alimentos, desde que não nos façam, falta.
Entretanto, não doamos o presente que esses sofredores mais precisam. Tempo! Um pouco que seja de nosso indisponível tempo!

E o que fizemos de nossas vidas, montando-as de maneira a não dispor de um mínimo de tempo para nosso próximo? Como foi que chegamos a esse grau de indisponibilidade? E em busca do que corremos tanto, se toda essa correria visa justamente conquistar uma situação de paz e segurança em nossas vidas, e se essa paz e segurança está justamente na união que não promovemos com os que nos ladeiam?

Mendigos nos pedem esmola com as mãos, e atenção, com os olhos. Mas, quem de nós se dá ao trabalho de olhar nos olhos de um mendigo, ao lhe dar uma esmola? E se o fizermos, pouquíssimos de nós perceberá o drama de uma vida escondido nesse olhar!

Todas essas pessoas que fizeram o mundo pior neste ano – muitos de nós entre elas – enviaram cartões e mensagens de natal desejando paz a toda a humanidade!

Tal como o chefe da família da estória acima, rezamos pelo milagre, mas não esperamos que ele aconteça, talvez até por não acreditarmos em milagres.

Atualizamos nosso”mailing” muito mais para que o amigo ou cliente não se ofenda com o nosso esquecimento, do que por genuíno amor a eles.

Então nesta época do ano pedimos paz ao mundo, mas não somos capazes de iniciativas para PRATICARMOS A PAZ.

Desejamos paz, mas não fazemos ou buscamos a paz. Esperamos que ela nos chegue por iniciativa de outrem.

Somos excessivamente condescendentes para conosco mesmos. Nosso senso crítico é válido somente para os outros: Impacientes são os outros, eu sou apenas ocupado! Antipáticos são os outros, eu sou apenas distraído. Convencidos são os outros, eu tenho apenas consciência do meu próprio valor. Beligerantes são os outros, eu apenas defendo meus direitos.

Escrita num cartão de Natal, os votos de paz, harmonia e prosperidade parecem vir diretamente da Finlândia. Não por ser esta a terra de Papai Noel, mas pela frieza que carregam.

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JB Xavier
Enviado por JB Xavier em 13/12/2006
Alterado em 16/01/2011


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