JB Xavier

Uma viagem ao mundo mágico das artes!  A journey into the magical world of  the arts!

Textos

AHÁ! FIQUEI ESPERTO!
AHÁ! FIQUEI ESPERTO!
J.B.Xavier

Alô, sou eu, meu cumpade,
To te ligando também
Retribuindo a amizade.
E a família, vai bem?

Tá todo mundo zangado
Com um tal de Plagiador,
E eu aqui, tão parado.
Nem conheço esse senhor!

Confesso: essa picuinha,
Nada leva em gritaria.
Pois quem, de um programinha,
Já não fez pirataria?

E programinha tem dono,
Teve um cara que bolô.
E fica, depois, no abandono,
O outro é que faturô.

Sabe cumpade, o que penso
De quem faz plágio anarquista?
É um cara sempre tenso
Por ser um simples copista!

Mas não liguei para isso,
Comigo a coisa é mais séria,
Só falo com compromisso.
Comigo não tem pilhéria!

Sim! É Claro que sei!
E tô me modificando!
Graças a Deus, acordei,
E hoje estou me virando.

É que, sabe, me desculpe,
Tô cada vez menos pobre!
Por isso tu não te culpe
Por ligá em horário nobre!

É que tô ficando esperto,
E perdendo a castidade.
Por isso não tô tão perto
Dessa tal honestidade.

Como? Tu tá duvidando?
Pois então vou te mostrar
Como é que estou dançando
O tango que está a tocar!

Há bem pouco descobri,
Veja como eu era otário,
Que todo livro que li,
Não era nem necessário!

Pois pra sê intelectual
Daqueles que nada escapa,
Não se lê livro, afinal,
Basta a orelha da capa!

Lá tá tudo resumido
O que que o livro contém.
Basta não ser esquecido
E não contá pra ninguém!

Me deram, pois, duas dica
Pra ser um desses leões:
-Papo simples, se complica.
-Fazer muitas citações!

Depois disso, meu cumpade,
Tenho vivido melhor,
Pois já não busco a verdade
Em Platão que sei de cor.

E me informaram então
Pra não perdê embocadura,
Que essa tal de Informação
Substitui a cultura!

Até arranjaro apelido
Prá inteligência escassa.
E é um nome polido:
Chama “Cultura de Massa!”

Lhe peço não confundir
Com Cultura Popular,
A que faz o povo rir,
E que expressa o seu cantar.

Porque essa é sentimento,
Tem colorido e matiz.
Tem substância e alento,
Tem origem, tem raiz..

Portanto, pra relembrar:
Modismos? Eu não me encaixo.
Porque não há paladar
Que aceite goela abaixo!

Forjando cultura estão!
O que é isso,companheiro?
É falta de inspiração?
Ou só busca por dinheiro?

Tu tá rindo, meu amigo?
Mas eu tô falando sério!
Eu sei! Concordo contigo!
Mas mudaram o critério!

E me disseram que é sábia
Essa Cultura de Massa,
Que basta ter boa lábia
Para fugir da desgraça!

Tu te lembra dos poema
Que no colégio fazias,
Onde fonema a fonema
Lembrava Gonçalves Dias?

Mas hoje, amigo, aprendi
A mexer num Top Lap,
E também não resisti
Em faturar com o Rap!

Tô ficando moderninho
E tu tá ficando atrasado!
Basta só ser espetinho
Prá ter um carro zerado!

É mole? E eu na dureza
Pelas décadas sem fim!
Quando, com a esperteza,
Nem preciso do Latim!

Tem coisas – eles que provem –
Que parece coisa vã.
Como comparar Beethoven
Com o nosso É o Tchã?

Van Beethoven, me parece,
Fome estaria passando,
Se em seu show não houvesse
Uma bunda rebolando!

Vai dizê que Carlos Gomes
É melhor que o Tiririca?
Se pensas isso, tu somes!
Concorda, que não cumplica!

Veja você, os paulistas.
Na Capital do Teatro,
Nem tem escola de artista!
Se tivé, são três ou quatro!

C’os Carioca é o consumo!
Resumem um ano de vida
E despejam o resumo
Em um dia na avenida!

E a magia da cidade
Já ninguém se lembra mais.
Foi-se a simplicidade
Dos antigos carnavais,

Cadê aquele fascínio
Cuja falta desconsola
Das rimas de Lupicínio
Ou dos sambas do Cartola?

Ninguém sabe um pedacinho
Muito menos tudo, inteiro,
Sobre Nelson Cavaquinho
Ou Jackson do Pandeiro!

E ninguém, no mundo inteiro
Seja na China ou no Bósforo,
Imita Ciro Monteiro
Numa caixinha de fósforo.

Cadê José de Alencar?
O Machado e sua prosa?
Caymmi, o homem do mar,
Lamartine e Noel Rosa?

Mas, se em Paris, num desfile,
Sobrar um peito de fora,
Garanto que lá em Joinville
Todos saberão na hora!

Isso prova, ô meu belo!
Que a tal cultura ascendente,
Tá marchando em paralelo
E emburrecendo a gente!

Ninguém nota, nem se vê
Se sei muito de História.
Pois as bundas na TV
São a verdadeira glória!

Abandonei coisa nobre?
Assim, constrangido eu fico,
Porque tu vai ficá pobre,
E eu tô ficando rico!

Meu cumpade, me aperreio,
Porque junto não estamos.
Claro! Vez em quando leio
O Pitágoras de Samos!

Mesmo vivendo abonado
Essa conta é um perigo!
É que fico emocionado
Se tô falando contigo!

Minha opção urgente
Em minha vida já fiz!
A ser pobre inteligente
Sou burro, rico e feliz!

Meus livros de cabeceira?
Um político me deu.
Um do Lula,com besteira,
O outro é do Zé Dirceu...

Alô, alô..
Cumpade...
Ih! Desligou!

* * *
JB Xavier
Enviado por JB Xavier em 27/01/2006
Alterado em 27/01/2006


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