CONFLITOS EM SÃO PAULO: UMA ESTRANHA COINCIDÊNCIA – PARTE 01
CONFLITOS EM SÃO PAULO: UMA ESTRANHA CONCIDÊNCIA – PARTE 01
São Paulo - medo e caos. De fato os ataques são muitos, coordenados e inteligentes, tanto quanto à forma como quanto aos alvos - bombeiros, bancos, metrô, terminais de ônibus, e praças públicas.
Aí está o primeiro ponto preocupante: Os ataques são coordenados demais, inteligentes demais, estratégicos demais, quer quanto à intensidade ou quanto à distribuição.
Para o observador atento, tudo na ação que se atribui ao PCC é bem feito demais. Tão bem feito que não teria sido possível articular uma ação dessa envergadura, abrangência -vários estados brasileiros - e esse nível de organização, no curto espaço de tempo entre a divulgação do remanejamento de alguns chefões do crime para presídios de segurança máxima, e o início das ações – algumas horas apenas!
Hoje, como era de se esperar, circulam explicações também óbvias demais, coerentes demais, e, principalmente, convenientes demais! Biografias resumidas do chefe do PCC, atribuindo-lhe adjetivos como “intelectual” e “inteligentíssimo” estão em toda a imprensa, obviamente para justificar o despreparo das forças policias de reagir a ataques. Treinada para atacar, descobriu-se agora que ela não sabe se defender.
Nasce o herói-bandido, uma espécie de Robin Hood moderno.
Um conveniente ponto de convergência das atenções para que a sociedade tenha o que digerir e tire a atenção das verdadeiras causas do que aconteceu.
Dentro de alguns dias, quando a mídia tiver voltado suas lentes e microfones para outros alvos, restarão apenas as sepulturas dos inocentes que perderam a vida da maneira mais inútil que se pode imaginar: Em nome de coisa alguma, por motivos aparentemente fúteis, mas que, por qualquer ângulo que se queira analisar, reflete a falência de uma sociedade mal estruturada.
Mas, por trás de tantos fatos óbvios e tão bem explicados, há indícios de algo muito maior, mais estruturado e mais perturbador, funcionando nos subterrâneos da sociedade. Basta que olhemos a questão despidos da comoção que eventos tão violentos costumam causar.
Por outro lado, é também bastante estranho que o alto comando da polícia tenha divulgado que já esperava reação do PCC ao remanejamento, e mesmo assim tenha decidido fazê-lo, porque, segundo nota oficial, a situação dos líderes do crime organizado nos presídios em que estavam, era insustentável.
Mas, ainda que a situação fosse mesmo insustentável, é difícil entender por que a tal transferência foi feita às vésperas do Dia das Mães, dia em que os presídios estariam lotados de visitas aos detentos.
Não é muito difícil reconhecer um padrão de guerrilha urbana nas ações criminosas em São Paulo. Todo militar de policiamento ostensivo que tenha freqüentado treinamento anti-guerrilha urbana, sabe que a guerrilha tem alguns objetivos prioritários, nesta ordem:
1º - Atacar a própria força policial aproveitando-se do elemento surpresa.
Motivo: Quebrar o moral das forças policiais, e imobilizar efetivos que serão deslocados para a guarda dos postos policiais.
2º - Atacar alvos distantes entre si, preferencialmente na periferia.
Motivo: Forçar a pulverização da reação policial.
3º - Atacar alvos que aparentemente não deveriam ser atacados, como bombeiros, hospitais, civis etc.
Motivo: Instalar o pânico e o medo na população, diminuindo nela o desejo de opor resistência.
4º - Manter a intensidade dos ataques na maior área geográfica possível.
Motivo: Diluir e minar a resistência da força policial.
5º - Horas depois do início dos ataques à periferia, atacar também o centro da área demarcada.
Motivo: A tendência é que ela esteja desguarnecida, obrigando um refluxo das forças de segurança e o conseqüente desguarnecimento da periferia.
No conflito em São Paulo, todas essas etapas são claramente detectáveis. Resta saber se é apenas uma coincidência, ou se os criminosos passaram a freqüentar cursos de guerrilha urbana.
No primeiro caso, estaremos diante do fato de que uma coincidência de cinco pontos está na casas das possibilidades de alguns bilhões para um. Nesse caso precisamos admitir que a imundície dos presídios brasileiros fez o que nossas melhores universidades não conseguem: Criaram um gênio da administração e da logística, capaz de coordenar ações integradas no tempo e no espaço, de dentro de uma cela, a partir de um simples telefone celular.
No segundo caso, surge inapelavelmente duas perguntas: “Quem teriam sido os instrutores?” e “Por quê?”
Há uma boa chance de que quem quer que surja clamando por segurança, mudanças etc, seja a resposta. Nesse caso a segunda pergunta estará também respondida.
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JB Xavier
Enviado por JB Xavier em 15/05/2006
Alterado em 16/05/2006