|
Conheça outros texto deste autor AQUI
_________________________________
Um texto impressionantemente ousado, forte, profundo e perturbador, escrito pelo autor, hoje com 29 anos, quando tinha 17.
__________________________________ ANSEIOSJannerson Xavier
Cansei. Se não for de tudo, é de, pelo menos, grande parte do que vivo. Cansei, como ponto de partida, da apatia. Apatia essa que se alia ao ócio. Cansei de viver na sombra do grande espectro mórbido que me esmaga sob seu peso. Cansei de estar tão firmemente soldado ao chão que não olho para outro lado senão para cima. Cansei de viver a vida no meio da encruzilhada e ver os outros passarem. Passarem e baterem. Quero estraçalhar-me com qualquer pessoa cuja trilha venha a coincidir com a minha, seja lá quem for. Quero ver o semáforo ficar amarelo e acelerar ao invés de frear. Quero sentir o farol vermelho, que, pela proximidade já não pode ser mais visto, e acelerar mais ainda, sobrando-me nada a fazer a não ser torcer para que ninguém colida comigo, mas tendo, bem no fundo, a esperança de que alguém venha a fazê-lo. Quero lançar-me à sorte. Girar a roleta e lançar-me em seu meio, rodopiando numa trajetória caótica sujeito apenas à gravidade e ao atrito. Quero sair da inércia, seja ela estática ou dinâmica. Quero me mover com minhas pernas de um lado pro outro, sacolejando a alma moribunda que ainda me habita.
Cansei da rotina, de ciclos - Década, ano, estação, mês, semana, dia, manhã, noite, hora, minuto, segundo. Já não bastasse o tempo ser uma infinidade de círculos concêntricos que se orbitam, minha vida ainda é um imenso pêndulo rotatório. Cansei de círculos. Que se abra o sinal do infinito e trace no espaço um “daqui até lá” e não um “até lá e de volta”. Cansei de mesmos lugares. Cansei de trilha de feijões e do caminho de retorno. Quero, além de não saber para onde vou, não saber de onde vim, mas saber onde estou. Aqui. Cansei do lá, do depois. Quero o aqui e o agora, tão bem definidos quanto meu corpo de carne e osso e tudo aquilo que o cerca e que interage com ele. Cansei das faixas de grama amassada. Caminhos ditados pelo costume e pela repetição e obedecidos tão irracionalmente como foram feitos. Cansei da objetividade, do menor caminho, da linha reta. Do extermínio do espaço em função do tempo. Quero andar em círculos em campo aberto, fazer o trajeto mais longo simplesmente pelo trajeto em si. Cansei de fins sem meios. Quero fins com meios e, acima de tudo, meios sem fins. Quero fazer por fazer, e não por ter feito.
Cansei de construir meu futuro, o que é o mesmo que construir meu passado. Cansei de projeções e de expectativas. Acima de tudo expectativas parentais. Se meu futuro não me compete, quanto mais a outros. Cansei do útero infinito, da forca umbilical. Cansei da gestação pós-natal que, se não for abortada, só parirá na morte. Cansei de ser caracol. Trocar a dinamicidade da vida pela segurança de carregar a casa nas costas. Cansei de sentir o aroma adocicado da segurança. Quero sorver o fel proveniente das podridões à beira do caminho. Cansei do toque do algodão. Quero sentir a aspereza, a rispidez. Quero escoriações. Quero a dor. Chega de auto-piedade, o que eu desejo é o masoquismo anímico. Enterrar a estaca no meu peito e me alimentar do meu próprio sangue.
Cansei, em síntese, do “isto”. Dessa situação atual, em quase todos os aspectos. Quero mudança. Mas não uma mudança superficial como preto pro branco, ou agudo para grave. Quero mais uma mudança total de sentido como de cor para som, de preto para agudo. Ainda assim isso é insuficiente. Quero muito mais. Quero outros cinco sentidos, ou nenhum. Cansei do horizonte longínquo e da morte à vista. Quero andar à beira do penhasco, sentido a vertigem de olhar para além do horizonte, saber que a morte vive lá no fundo, mas ter o alívio de não vê-la. Cansei da vida efêmera inscrita no tempo infinito. Quero, enfim, a vida infinita inscrita no breve agora.* * *
Wishes Jannerson Xavier
I'm tired. If not all, is at least much of I live. I'm tired, as a starting point, of apathy. This apathy which is allied to idleness. I'm tired of living in the shadow of the morbid spectrum that crushes me under its weight. I'm tired of being so firmly welded to the floor and look just to the sky. I'm tired of living life in the middle of the crossroads and see the other passing. Passing and crashing. I want to bust me with anyone whose track will coincide with mine one, whoever you are. I want to see the traffic light turns yellow and to accelerate instead braking. I want to feel the red light, which due to proximity can no longer be seen again, and accelerate further, and hope nobody collide with me, but evenso, hoping deep inside, that someone will do it. I want to throw me to the adventure. Rotate the roulettel and throw me in their midst, and deep in a swirling in a chaotic trajectory. I want run out of inertia, either static or dynamic. I want to move on my own legs from side to side, bouncing the dying soul that still dwells inside myself.
I'm tired of the routine of cycles - Decade, year, season, month, week, day, morning, evening, hours, minutes, seconds. Was not enough time to be a multitude of concentric circles that orbit each other, my life is still a huge rotating pendulum. I'm tired of circles. That opens the sign of infinity in space and draw a "from here to there" and not a "there and back." I’m tired of the same places. I'm tired of track made with beans and the way to return. Despite do not know where I’m going, I do not want to know where I came from, and still so, to know where I am. Here! I'm tired of “there” of “after”. I want to be here and now, so well defined as my flesh and bone and everything that surrounds and interacts with me. I’m tired of mixed grass traks. Paths dictated by custom and repetition and obeyed as irrationally as they were made. I’m tired of objectivity, the shortest path, the straight line, the extermination of the space as a function of time. I want to walk in circles, in the open fields, making the path longer simply by path itself. I’m tired of ends without means. I want ends with means, and, above all, means without ends. I want to make it without reasons, not just to have done.
I'm tired of building my future, which is the same as building my past. Tired of projections and expectations. Above all parental expectations. If my future is out of my comand, what to say about others? I’m tired of the infinite uterus, of the umbilical gallows. Tired of post-natal gestation, that, if not aborted, shall bring forth only in death. I’m tired to be snail. Change the dynamics of life for the security of carrying the house back. I'm tired of feeling the sweet aroma of certainty. I want to drink the gall from rot by the wayside. I'm tired of touch of cotton. I want to feel the roughness, the asperity. I want excoriations. I want the pain. Enough self-pity, what I desire is psychic masochism. Driving the stake into my chest and feed me with my own blood.
I'm tired, in short, of the obvious. Of this current situation, in almost all respects. I want changes. But not a superficial change like black to white, or from acute to weighty. I want more than a total change like from sound to color, from black to treble. Yet this is insufficient. I want much more. I want other five senses, or none. I'm tired of the far horizon and death in sight. I want to walk along the cliff, feeling the vertigo to look beyond the horizon, knowing that death lives deep down, but having the relief of not seeing her. I’m tired of ephemeral life write in infinite time. I want, finally, the infinite life write in the present time.
* * *
JB Xavier
Enviado por JB Xavier em 08/08/2011
Alterado em 06/02/2018
|
|