O AMOR E A LÁGRIMA
O AMOR E A LÁGRIMA
J.B.Xavier
Ao cair da tarde, quando o silêncio, aos poucos, descia sobre a floresta, a passarada começava a se acomodar no calor dos seus ninhos, e o vento, por um instante, cessava seu eterno voar. Então, Jacy, a lua, ia, lentamente, tomando forma no céu.
Enquanto o horizonte se esfumava, transformando-se numa névoa distante, tingida pelo vermelho do sol poente, a selva tornava-se imóvel pela mágica do anoitecer. Era nessa hora, que, lá nas alturas, um disco prateado buscava o espelho de todas as noites: O lago encantado que ficava no mais escondido recôndito da floresta.
Vagarosamente as estrelas surgiam, enfeitando o azul escuro profundo, que aos poucos ia se transformando no manto negro da noite.
Jacy avançava lentamente pelo céu, até flutuar sobre o lago, onde admirava sua própria beleza refletida nas águas calmas e profundas.
Como todas as noites, ela esperaria pelo Amor, que viria caminhando em passos flutuantes pelas trilhas da selva, que ela se apressava a iluminar.
Quando chegava à orla do lago encantado, ela lançava sua luz prateada sobre as águas, iluminando-as lindamente, enquanto o vento, compreendendo que chegara o seu momento de intervir, eriçava sua lisa superfície, arrancando maravilhosos reflexos, como se uma chuva de diamantes estivesse sendo derramada sobre ela.
Como fazia todas as noites, o Amor sentava-se sobre a grande pedra que mergulhava nas águas mágicas e recitava feliz, lindos poemas a Jacy e a Yara, a deusa das águas, enquanto o Vento levava seus versos em suas velozes asas, e os espalhava pelo mundo em forma de gentis sentimentos que aqueciam o coração das pessoas.
Então, vindo das profundezas das águas iluminadas, ouvia-se um canto maravilhoso, como se mil violinos estivessem a tocar divinamente, e dos redemoinhos de luzes coloridas que brincavam nas águas, Yara surgia lentamente, a cantar um hino ao Amor.
Seus longos cabelos negros brilhavam molhados à luz prateada do luar, e enquanto seu corpo moreno surgia das águas, o Amor sucumbia à beleza da magia do seu canto.
Lentamente Jacy passava sobre o lago encantado, sorrindo pela felicidade de ver o Amor feliz. Enternecida pela homenagem que lhe prestava Yara todas as noites, ela seguia seu caminho, iluminando outros lugares do mundo.
Mas um dia, o Amor não veio. Tampouco veio nos dias que se seguiram. Em vão Jacy iluminava os cantos mais escuros da floresta à sua procura, até que, desanimada, ia-se embora. Uma tristeza infinita abateu-se sobre o mundo, porque já não se podia ouvir os lindos versos que o Amor declamava tão alegremente.
Certa noite, porém, ele voltou, mas estava triste e silencioso. Sentando-se à beira do lago, ele se pôs a observar o silêncio das águas misteriosas. Jacy havia passado e já se fora, em sua eterna andança pelo mundo, por isso, o lago estava tão escuro quanto a noite.
Então ele ouviu a voz da deusa das águas, vindo de suas profundezas:
- Que tens, Amor, que já não sorris? Para onde foi tua alegria?
- Conheci a Tristeza – disse ele – e apaixonei-me por ela...Agora, sinto que sem ela não consigo mais viver...
- Que pena! – Respondeu Yara – tua alegria era a minha alegria, teu cantar era o meu cantar e até Jacy, a lua, homenageava todas as noites, com sua luz, o teu existir...
- Eu já não posso viver sem Tristeza... – repetiu o Amor – lembro dela sempre que olho para essas águas escuras... Minha vida será para sempre recordar estas águas...e ficarei ainda mais triste por não vê-las mais, porque partirei pelo mundo, e onde quer que haja um coração triste, haverei de o inundar de amor...
- Então – disse Yara – Eu te darei um presente, que para sempre te fará lembrar de mim e de Jacy. De hoje em diante, onde quer que vás, tu te emocionarás ao ver um luar brilhando nos céus e nesse momento, de teus olhos escorrerá uma parte de meu lago, para lembrares que para sempre estarei contigo.
Enquanto falava, Yara ergueu os braços e abriu as mãos, de onde saíram pequeninas luzes azuis cintilantes, que flutuaram lentamente até o Amor, e se transformaram em lágrimas quentes, que para sempre verterão dos olhos daqueles que amam...
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JB Xavier
Enviado por JB Xavier em 12/02/2007