JB Xavier

Uma viagem ao mundo mágico das artes!  A journey into the magical world of  the arts!

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WAGNER E NIETZSCHE – A POLÊMICA CONTINUA! – Parte 05 de 07 partes
WAGNER E NIETZSCHE – A POLÊMICA CONTINUA! – Parte 05 de 07 partes



Bem vindos ao mundo da música e da filosofia. Este ensaio compõe-se de 07 partes, publicadas semanalmente.

Para quem está chegando agora:
Contemporâneas, essas duas mentes prodigiosas estiveram intimamente associadas por algum tempo, ligadas, como não poderia deixar de ser, pelas idéias grandiosas que ambas produziam.
Ao contrário de Nietzsche, Wagner era – e se considerava - um fim em si mesmo. Não se deixava influenciar por nada que não fosse monumental, especialmente no terreno musical. Sua personalidade marcante era de tal forma carismática que Nietzsche sucumbiu a ela e deixou-se apaixonar por suas idéias, para mais tarde, delas discordar e dar início à mais longa polêmica de que se tem notícia na história do pensamento humano!

* * *

PARTE V

No capítulo anterior, vimos como Wagner indispôs-se com a sociedade de seu tempo. Entretanto, se olharmos sua personalidade sob o ponto de vista psicológico, veremos que suas ações e reações denotam uma profunda carência de amor e reconhecimento.

O autor de O CREPÚSCULO DOS DEUSES tinha um vulcão criativo ardendo dentro de si, e se por um lado, durante toda a sua vida seus críticos não lhe deram trégua, por outro lado é forçoso que se reconheça o nacionalismo arrebatado do qual Wagner era tomado.

Ele via o povo alemão, musicalmente falando, como subserviente das vertentes musicais italianas e francesas, e a isso se opôs durante toda a sua existência. As causas maiores de seus problema foram, nesta ordem: seu excepcional gênio criativo e sua extravagância.

É bom lembrar que quando Nietzsche nasceu, em 1844, Wagner já estava com 31 anos e já havia revolucionado os pilares da ópera alemã. Não é difícil, portanto, imaginar o fascínio que a obra magnética de Wagner exerceu sobre a mente inquiridora de Nietzsche. Era um jovem sonhador deslumbrado com as idéias do mestre.

Wagner faleceu em 1883 e Nietzsche somente em 1900, já às portas do século XX. Portanto, o filósofo sobreviveu ao músico ainda por 17 anos, tempo do qual o pensador usou grande parte para alimentar as críticas que dirigia ao criador de AS VALQUÍRIAS.

O fato, é que, a despeito das misérias por que passou, Wagner sempre viveu entre ricos aristocratas. Não como seus servos, mas como seus iguais.

Lentamente a sociedade dos abastados ia flexibilizando seus fechados círculos e admitindo aquele homem que não batia às portas – as arrombava!

Era melhor deixá-lo entrar – raciocinavam - do que amargar a pecha de desinformados culturalmente, já que aos poucos sua popularidade aumentava e suas obras eram cada vez mais executadas nas grandes casas de espetáculo alemães.

Consciente de suas limitações como instrumentista, Wagner atuou por longos dezesseis anos – entre 1833 e 1849 - como diretor de coros e orquestras em teatros de ópera alemães.
Após esse período, quando Nietzsche estava com apenas 5 anos de idade, e nem prenúncio era do monumento do pensamento ocidental em que se tornaria Wagner deixou o cargo de Kapelmeister.

Ora! Kapelmeister – ou Mestre de Capela – era um cargo ao qual a maioria dos compositores aspirava, como forma de atingir a segurança financeira numa profissão tão instável financeiramente.

Sob a proteção do clero, os “mestres de capela” podiam garantir certa tranquilidade de espírito para compor, ainda que fossem obrigados a dispersar grande parte do seu tempo compondo obras sacras para a própria Igreja.

Segurança versus limitação criativa: Era um preço justo, raciocinavam os compositores de então.

Não para Wagner! Assim que percebeu que seu trabalho seria desviado do rumo que traçara, ele simplesmente renunciou ao prestigioso cargo de Kapelmeister, e exilou-se na Suíça.

Talvez tenha sido este episódio o mais marcante da vida de Wagner. Com essa decisão ele avisou ao mundo: “Meu sonho não está à venda!”

E o mundo compreendeu a mensagem. Um homem que prefere o fracasso total a manter-se na segurança do insípido - pairando no horizonte seguro dos medíocres que não conhecem nem fracassos nem vitórias - merecia atenção especial e, acima de tudo, respeito!  


Para Wagner, esse respeito veio na hora exata, porque mesmo não se importando com seus detratores, e o que eles viessem a pensar dele, com sua música entretanto, ele exigia respeito.

A composição o fascinava, e com essa decisão, uma das muitas decisões extremadas que Wagner tomou na vida, teve início um período de portentosa criatividade para o compositor.

Na Suíça, mergulhado na música pura, desaparecera o revolucionário de 1849, e nascera o criador cujas obras agora chamavam a atenção das rodas burguesas sobre si.

Mas, atenção da burguesia era uma coisa, e sobreviver financeiramente era outra! E, não obstante o sucesso de suas composições, sua vida rodava tão suavemente como rodaria uma carruagem com rodas quadradas.

Às custas das vendas – e às vezes, da revenda - de suas composições, outras vezes às custas da generosidade de amigos como Franz Liszt e Otto Wesendonck , outras ainda às custas dos cunhados, Wagner foi levando uma vida entre ricos comerciantes, influentes industriais, grandes banqueiros e príncipes. Quem não o conhecesse julgá-lo-ia um deles.

Ao debruçar-me sobre tão fascinante biografia, tive que ser extremamente cuidadoso com a análise da aparente frivolidade do autor de FESTSPIELHAUS.

Nietzsche cometeu o erro de ater-se apenas ao lado frívolo de Wagner. Foi um erro do grande pensador, que eu, mesmo com minhas óbvias limitações, não desejo repetir.

Assim, despindo a análise de seus componentes emocionais, é preciso que se atribua, como mérito do compositor, que apesar do aspecto mundano do qual se revestia seus hábitos; que apesar de parecer superficial, Wagner estava ferrenhamente decidido a vencer, a elevar-se ao apogeu social por via do teatro, e como homem de teatro! Ele desejava mais que tudo ser reconhecido como artista, como músico, e para isso, esperou pacientemente e preparou durante muitos anos o público que o haveria de cultuar um dia.

Usando de todo o seu charme de gênio, ele o recrutou entre as pessoas orgulhosas de sua independência econômica,e recrutou-o também entre os intelectuais que buscavam terreno fértil para desenvolver suas idéias.

Exatamente entre estes últimos, estava Nietzsche, que como outros milhões, sucumbiu ao carisma irresistível de uma mente tão prodigiosa e revolucionária quanto a sua própria.

Dizem que os céus conspiram a favor dos que desejam intensamente. Filosofia à parte, o fato é que tal intensidade de desejos raramente falha.

Assim, finalmente, por volta de 1873, quando Nietzsche chegara aos vinte e nove anos de idade, e após sessenta anos de vida, pode Wagner instalar-se em Bayreuth e ter ali sua casa e sua vila! Ali ele pode, finalmente, olhar para sua grande sala de recepções e seu jardim com acesso ao parque real. A sociedade, enfim, o aceitara, e da forma como ele queria, sem precisar renunciar à sua natureza de grande histrião, nem à sua mulher, nem aos seus filhos.

Era, finalmente, um vencedor!

Foi então que o ensaísta e teórico Wagner sobrepuseram-se ao músico, proclamando que Deus tinha morrido – exatamente o que pregava Nietzsche – e a Arte pura viera ocupar o seu lugar.

Nascia o Wagner messiânico e um discípulo ardoroso! Mas analisaremos isso melhor no próximo capítulo.

Até lá!

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JB Xavier
Enviado por JB Xavier em 21/08/2005
Alterado em 08/03/2010


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