TEORIA E PRÁTICA
JB Xavier
Quanto à teoria, deixe-me contar-lhes um caso interessante. Certa vez, eu, que sou músico amador, recebi a visita de um amigo, músico profissional renomado, e juntos, fomos passar um fim de semana na casa de outro amigo meu. Este anfitrião, também músico amador de bom quilate, tentando nos impressionar com suas habilidades musicais, foi até o piano e executou algumas melodias da moda. Para qualquer leigo, a execução poderia ser considerada boa. Ao terminar, disse, com falsa modéstia, mas, na realidade esperando elogios. - Bom, desculpem, mas não conheço muito bem teoria musical...E o meu amigo ao meu lado, sem nenhuma maldade, respondeu...”É...percebe-se, em certas passagens.”
Mas, toda idéia excludente está, por natureza, errada. De maneira que somente a teoria, de fato, não funciona, mas a prática, sem ela, perde o brilho. Quem ensina teoria, e não sabe fazer, é como o professor de natação que ensina sem nunca ter entrado na piscina porque não sabe nadar. É compreensível o saber sem ensinar, mas não é aceitável o ensinar sem saber. Delfim Neto, ele próprio um grande professor, resumiu bem essa questão quando passou o cargo de ministro da fazenda ao finado Mário Henrique Simonsen, outra sumidade da Fundação Getúlio Vargas, na época, e deste sofreu críticas severas pela condução do ministério, em 1979: disse ele: "Quem sabe faz, quem não sabe ensina".
A maioria dos grandes escritores foram também pensadores, e muitos deles transcenderam esse pensar e construíram sistemas cosmogônicos próprios, transformando-se em filósofos.
O expressar de sentimentos, é claro, transcende a retórica, mas seja qual for seu meio ou forma de expressão, não exclui as demais. São elas facetas de um mesmo todo, que juntas, constituem-se numa das colunas que sustentam o edifício do pensar e do sentir humanos, que é o que, no fim, nos torna seres especiais.
Penso, finalmente, que conviver com extremos sem perder a habilidade de se manter no meio é, me parece a demonstração última de sabedoria, porque a verdade, se é que existe, não está nos extremos, mas em algum lugar entre eles.
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