Jannerson Xavier
Nos séculos XVII e XVIII surgiu o movimento cultural chamado Iluminismo. Este valoriza o questionamento, a busca do conhecimento através do empirismo. Essa mesma vertente filosófica embasou a Revolução Industrial e o conseqüente aumento drástico do desenvolvimento científico. Desde então a ciência vem se desenvolvendo cada vez mais rapidamente, quebrando paradigmas e rompendo com a ética.
Essa tendência, porém, não é observada apenas nas Idades Moderna e Contemporânea, sendo ocasionada pelo intelecto humano, não pelo nível tecnológico de uma determinada época.
Quase toda a base da ciência moderna é formada por teorias provindas da antiguidade clássica. Época que precedeu o Iluminismo em 2 milênios, mas na qual o questionamento foi fundamental na decomposição da filosofia nos diversos campos científicos que conhecemos hoje. Sempre rompendo com os conceitos já existentes Platão escreveu “República”, Demócrito e Leucipo desenvolveram a teoria do átomo e Pitágoras e seus discípulos revolucionaram a matemática de Tales.
Tantas mudanças ideológicas num período tão curto de tempo, no entanto, não geraram conflitos decorrentes da integridade ética da época. Isso se deve à mentalidade grega – na época o centro civilizado da Europa – de que a razão e o conhecimento traziam a prosperidade.
É curioso perceber que mesmo numa época posterior a essa, a chamada Idade das Trevas, na qual o avanço intelectual deveria ser acentuado, houve uma desaceleração desta. O que influenciou a Idade Média que não estava presente na Idade Antiga?
O monoteísmo, que traz consigo o fanatismo religioso, freou esse desenvolvimento ideológico. A Igreja Católica impôs seus dogmas exacerbadamente conservadores e mergulhou a Europa numa negra época de desprezo total à razão. Muitos desses dogmas conseguiram se manter por mais de mil anos, sendo que alguns duram até a atualidade. Mas a custo de um atraso absurdo em áreas como a medicina, que poderia ter salvado milhares de vidas, e a política, que poderia ter posto em prática formas de governo muito mais justas. Enfim, o mundo já passou pela fase na qual a ciência foi obscurecida pela ética e esta ficou conhecida como Idade das Trevas.
Hoje o problema é justamente o inverso. O recente e explosivo crescimento dos meios de comunicação leva informações a pessoas que, em suas infâncias, não tinham esse acesso e foram fortemente influenciadas pelo conservadorismo. Isso acarreta um “conflito” entre duas realidades totalmente distintas mas que, devido ao acentuado desenvolvimento científico, distam em poucas décadas no tempo. É o mesmo conflito que se observa desde o século XVIII porém agravado por uma série de fatores sociais e históricos.
O conflito entre ciência e ética continua. Diversas vertentes filosóficas criticam esse ou aquele objetivo do campo científico. No entanto as inovações em si já mostram que, se há algum objetivo absoluto, o caminho para chegar até ele já é suficientemente prolífico.
Enquanto o intelecto humano for livre para questionar tudo que o cerca, a dualidade ciência-ética inerente a ele continuará por dividir opiniões enquanto a ciência continuar abrindo possibilidades ao longo de seu caminho rumo ao desconhecido.