UM POEMA DE AMOR
J.B.Xavier

Escorre de mim a história de um amor,
A espera, a agonia,
De outra madrugada insone,
Outro dia
De procuras impossíveis...  

Sou o oceano em que, imerso,
Subjugo-me na ternura de um verso,
Submetendo-me ao silêncio interior
De onde vertem pelas rachaduras da alma
Filetes de amor...

Sou o sol mortiço, a luz enfraquecida
De uma esperança vã,
Um olhar sem crença,
Uma indiferença,
Uma ausência de amanhã...

Sou o ontem esquecido,
Uma foto amarelada, um livro antigo
Uma flor despetalada, um amigo sem ombro,
Um ombro sem amigo,
Uma lembrança distante, um amor sofrido...

Mas quero-te, ainda que o tempo te negue,
A mim, que sempre te busquei,
Ainda que me negue a ti,
Que sempre desejei,
Ainda que o vento do tempo a tudo carregue...

Sou o ar latente, que permeia teu peito,
E ainda que desistas de me amar,
Ainda que negues o meu leito,
Não podes desistir de respirar...
Sou a poesia que enfeitou teu caminhar...

* * *  
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