VAZIOS
JB Xavier
Ó deidades tonitruantes do infinito
Por que congelam assim minh’alma e meu grito
Que debatem-se prisioneiras, como quem anseia
A liberdade de abrir a própria veia
No inquietante universo das loucuras
Em que, prisioneiro de mim, me agito,
Encantando-me com o canto da sereia
Que me leva ao paraíso de impensadas torturas?
Sintam em si também vós, deuses poderosos,
Os incandescentes gestos, os restos andrajosos
De inverossímeis e quiméricas intenções,
Desaguando em irreversíveis e grandiosas paixões
Com as quais desalinho minha rota no universo,
Com as quais perfilo-me entre pretensos corajosos,
Desfrutando também eu dessas visões
Com as quais desfaço-me, reconstruo-me e me disperso...
Ó divindades, olhem por um instante para além do entendimento
E vós, que sois capazes de conter a eternidade num momento
Sintam, como eu, liquefazerem-se as certezas e as harmonias
Nas dissonantes partituras das noite e dos dias
Entre os quais oscila o pêndulo de minha existência...
Sintam também vós o prazer do ferimento
Que com sua intensa dor enche de alegria
O vazio silencioso e triste de uma ausência...
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JB Xavier
Enviado por JB Xavier em 16/04/2017
Alterado em 16/04/2017