JB Xavier

Uma viagem ao mundo mágico das artes!  A journey into the magical world of  the arts!

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O SAGRADO DIREITO DE PENSAR
J.B.Xavier


Há pelo menos um ano não publico um artigo, apesar de alguns dos meus leitores terem me cobrado isso. Falta de assunto? Não! Falta de ânimo. O furação de estupidez que se abate sobre o mundo parece não dar sinais de que vai arrefecer. Para dar um exemplo, antes de iniciar o artigo, propriamente dito, agora mesmo pincei algumas das principais manchetes do UOL:
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PARA COMPENSAR FIM DA CPMF, GOVERNO ESTUDA CORTE DE ATÉ R$18 BILHÕES.
Lendo a reportagem, logo se vê que os cortes passam pelas emendas constitucionais que são a grande sacanagem dos governos de todos os tempos. Obviamente, essa idéia sofre ataques de tosos os parlamentares, e não passará. Portanto, vêm aí novos impostos para
Compensar a CPMF e já se fala até em NOVA CPMF 2008.

O porquê dessa atitude? Porque os ungidos pelos votos têm certeza de que seus eleitores são todos imbecis que perderam a capacidade de pensar. E em grande parte têm razão!
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Outra manchete do dia.
UNIVERSAL CHEGA AOS 30 ANOS DE VIDA COM IMPÉRIO EMPRESARIAL
Na reportagem nos é informado que “O império erguido pela Igreja Universal do Reino de Deus, que completou 30 anos em julho deste ano, vai além das 23 emissoras de TV e 40 de rádio. A reportagem traz levantamento de outras 19 empresas registradas em nome de 32 membros da igreja, na maioria bispos. Como? É que a Organização Universal, tem o cuidado de afastar bispos ou quetais que entrem em atrito com a Igreja ou se metam em escândalos divulgados. Diz a reportagem:
“Foi o que aconteceu com o ex-bispo e ex-deputado federal Wanderval Santos (que pertencia ao PL de São Paulo), denunciado pelo Ministério Público por envolvimento com a máfia das sanguessugas. Depois que o escândalo veio à tona, ele deixou a igreja e vendeu as ações que possuía na Rádio Liberdade (de João Pessoa, Paraíba) e na Rádio Continental (de Florianópolis, Santa Catarina)

Então vem a pérola, nas palavras do corrupto.
"Os homens podem ter seus erros, mas a igreja é santa", afirmou o ex-bispo à reportagem.

O que leva um homem, cuja diferença de um rato é apenas a higiene, (o rato é menos sujo) a proferir uma frase destas? Simples! A certeza de que seus seguidores são todos imbecis que perderam a capacidade de raciocinar. E de novo, em parte, ele tem razão.
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Outra do dia:
PRESOS NA OPERAÇÃO RAPINA ACEITAM DELAÇÃO PREMIADA
Se o leitor não sabe, “Delação Premiada” é o artifício jurídico que beneficia quem, após se preso, delatar detalhes das falcatruas em que se meteu. Em outras palavras: Premia-se o safado, amenizando-lhes as penas. No caso da reportagem, “de acordo com investigação da PF e da CGU (Controladoria Geral da União), os suspeitos são gestores públicos, contadores, empresários e técnicos do Tribunal de Contas do Maranhão. A estimativa é que tenham desviado cerca de R$ 1 bilhão dos cofres públicos nos últimos dez anos.”

O delegado responsável diz que nunca viu voracidade igual dos envolvidos: "Fiquei abismado com a voracidade dos prefeitos e agentes públicos envolvidos nas falcatruas. Tem prefeito que comia 100% da verba pública", disse Gominho. Para justificar os desvios, os prefeitos inventavam projetos e firmavam convênios com a União para a execução das obras. "Quando os recursos chegavam ao caixa, os prefeitos sacavam tudo e depois investiam em patrimônio, comprando apartamentos, carros e lanchas."

E diz o delegado: "Estamos oferecendo o benefício (da Delação Premiada) para todos os envolvidos no esquema. Os que aceitaram terão seus nomes enviados para a Justiça"

Como você se sente, leitor, por saber que a Justiça Brasileira compactua com canalhas, oferecendo-lhes benefícios que amenizem suas penas? Provavelmente um idiota! Pois é, nossos magistrados concordam com você. Eles nos consideram todos imbecis. E, de certa forma, têm razão!
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Eu poderia continuar a dar exemplos indefinidamente. Todos os dias as manchetes nos chamam de idiotas! Então, pergunto: O que aconteceu com nosso sagrado direito de pensar?

Por incrível que pareça, os exemplos acima tratam de questiúnculas menores, que nada mais são que as conseqüências de nossa incapacidade de pensar as questões maiores que as originaram.

Na história da humanidade sempre houve vigaristas, charlatães, embusteiros, enganadores, que à custa da boa fé alheia, procuram tirar vantagens. Mas o perigo não reside nos safados citados aí em cima, apenas. O perigo reside em nossa desistência do ato de pensar, de aferir, de comparar, de tecer alternativas, de usar nossa experiência de vida para discernir sobre o que é autêntico e o que é apenas falácia.

É um milagre que seres microscópicos como nós, humanos, habitando um planeta igualmente microscópico, num universo cuja infinitude apenas intuímos, possamos ter consciência de nós mesmos e dessa infinitude abissal na qual vivemos. É incrível que tenhamos criado sistemas de pensamento e padrões de comportamento, e que, depois de todas essas conquistas, tenhamos caído na preguiça mental trazida pelo mesmo progresso que foi fruto de nossa capacidade de pensar.

É irônico que seja assim, porque o conforto trazido pelos progressos obtidos pela humanidade lançou-a numa lassidão mental que a transforma em manadas manipuláveis por quem vê nessa lassidão a oportunidade de obter vantagens.

Essa lassidão não começou agora. Ela existe em todo lugar e tempo onde a sociedade obteve algum conforto e estabilidade, e é de tal forma perigosa que derruba impérios. O que é a queda do Império Romano, senão o fruto do enfraquecimento do pensamento, que temperava ideais e incitava às vitórias? O que é a Revolução Gloriosa francesa, senão o fruto de uma utopia que encontrou, para se desenvolver, o terreno fértil na lassidão do conforto dos impérios dos Luízes, tão socialmente escandalosos e decadentes que afrontaram até mesmo as mentes mais preguiçosas da época?

E por falar em utopias, são elas que, por serem a descrição ou representação de um lugar ou situação ideal onde vigorem normas e instituições políticas altamente aperfeiçoadas, acabam por trazer o impossível, o utópico, para o horizonte do realizável, mesmo que para atingir a felicidade suprema por elas prometida, se precise eliminar pela violência os que não concordem com ela. Ora, um dia Ghandi já disse: “O que se conquista com violência, só pode ser mantido com violência.”

Uma das maiores utopias de nossos dias é o sistema chamado de comunismo, cujo sustentáculo é a propriedade coletiva – inclusive dos meios de produção.

É tido e aceito que o conceito de comunismo como sistema social, político e econômico foi desenvolvido teoricamente por Karl Marx, e proposto pelos partidos comunistas, e que, posteriormente, alguns deles “evoluíram” para o socialismo. Por socialismo aqui, entenda-se a doutrina que sustenta a prioridade dos interesses da sociedade sobre os dos indivíduos, e defende a substituição da livre-iniciativa pela ação coordenada da coletividade na produção de bens e na repartição da renda.

É fácil ver, que se nos mantivéssemos pensantes, repudiaríamos esses dois conceitos utópicos – comunismo e socialismo - porque ambos excluem a livre-iniciativa, que é a essência do ser humano. Ora, um sistema que contraria a mais básica das essências do ser humano está fadado ao fracasso!

E como, em nome dos Santos, se origina uma idéia dessas, e mais misteriosamente ainda, como, elas proliferam, transformando seus criadores em seres “iluminados”. Na verdade não há mistério algum. Há apenas um eterno plágio de idéias e muitos espertos que, por terem consciência da lassidão de pensamento que campeia pelo mundo – em todas as épocas – as lançam como idéias originais por acreditarem que os que delas tomarem conhecimento são ineptos do pensar. Lamento concordar com eles.

Então, como surgiu o termo “utopia”? Que me corrijam os historiadores de plantão, e que me perdoem os ideólogos idem, mas não foi Marx quem primeiro falou em comunismo. Ele apenas divulgou e sistematizou as idéias de Thomas Morus que viveu 400 anos antes dele, na vizinha Inglaterra. Aliás, poucos são os que comentam Marx que leram seus escritos. A maioria deles leu, quando muito, as orelhas dos livros. E Lula, um ex-marxista convicto, nem isso!
Vamos lá! Thomas Morus (1480-1535), escritor inglês, imortalizou em seu livro um país imaginário, onde um governo, organizado da melhor maneira, proporciona ótimas condições de vida a um povo equilibrado e feliz
Mas, mesmo Morus, ao criar sua sociedade ideal baseou-se na sociedade idealizada por Platão em “A República”, porém cristalizando-a em idéias mais concretas, inteligíveis ao grande público e principalmente, factíveis. Foi com base no modelo platônico que ele publicou, em 1516, uma crítica social religiosa e política , em forma de ficção.
A obra se chamou Utopia, e nela Morus imagina uma ilha onde todos vivem em harmonia e trabalham pelo bem comum. Eis porque a palavra “utopia” define fantasia, sonho, bem estar. Essa ilha era dominada pelo rei Utopus.
Diz Morus no livro, à página 81:
“Os habitantes da Utopia aplicam aqui o princípio da posse comum. Para abolir a idéia da propriedade individual e absoluta, trocam de casa a cada dez anos e tiram a sorte da que lhes deve caber na partilha.”
Para ser justo com a verdade, os idealizadores das idéias utópicas, às vezes são honestos consigo mesmos, ou seja, acreditam no que estão dizendo. O problema vem com a leva de salafrários que vêem nessas idéias os instrumentos para a concretização de seus objetivos espúrios, onde as facetas negativas das utopias são adulteradas, falsificadas, modificadas, e mesmo sumariamente eliminadas.
Acredito que Morus pensou realmente em um mundo melhor, para se contrapor ao absolutismo de Henrique VIII, já que a sociedade idealizada por ele representa um antagonismo em relação à sociedade feudal do seu tempo.
Mas, Morus ainda não é o criador final do conceito de comunismo. Se sociologicamente ele foi se apoiar em Platão, utopicamente ele se apoiou Raphael Hitlodeu um viajante que teria participado da expedição de Américo Vespúcio, e que era muito conhecido por sua erudição. Rafael descrevia e afirmava que conhecera a fantástica Utopia, cuja descrição feita por ele nos remete a uma ilha paradisíaca, um lugar perfeito.
A fictícia Ilha da Utopia, no livro de Thomas Morus, é fruto de uma imagem criada a partir de histórias contadas por Raphael e outros desbravadores sobre a exuberância da América, quando retornavam à Europa. A Utopia é uma concepção teórica de um estado perfeito onde se viveria em plena liberdade religiosa. Assim, para Morus, a sociedade de Utopia é a reação ideal à sociedade inglesa de seu tempo; é a cidade ungida por Deus que ele contrapõe às cidades terrestres. As idéias de Morus demonstram que ele visava libertar os homens para o trabalho. Ao invés de lavradores sem emprego a correr as estradas, ele queria trabalho para todos; e ao invés de parasitas vivendo à custa de ricos, ele queria todos trabalhando. Deste modo esperava ele encurtar as horas de trabalho, dando a todos o dia de seis horas
Com tais idéias Morus se aproximou dos modernos socialistas – ou, melhor seria dizer vice-versa - embora o seu enfoque não seja, exatamente, em direção ao futuro; o seu ideal traduzia o ideal medieval, comum a toda a teoria política do Ocidente. Afinal, desde São Tomás de Aquino que a comunidade cristã consiste de classes diferenciadas que exercem harmonicamente funções próprias, todas necessárias ao bem comum. Essa é a sociedade ideal da Utopia de Thomas Morus.
Palavras de Morus:
“Eis o que invencivelmente me persuade que o único meio de distribuir os bens com igualdade e justiça, e de fazer a felicidade do gênero humano, é a abolição da propriedade. Enquanto o direito de propriedade for o fundamento do edifício social, a classe mais numerosa e mais estimável não terá por quinhão senão miséria, tormentos e desesperos.” (MORUS, 1516, p.71)
Foi assim que Thomas Morus, no século XVI, em pleno Renascimento, pintou com palavras o quadro da sociedade perfeita, cumprindo um papel de ensaísta político-social, e esquematizando uma sociedade ideal, sonhada e formalizada nas páginas de um livro que infelizmente continua sendo, para tantas pessoas neste planeta, tão atual como o foi quase cinco séculos atrás.
Um exemplo recente: Junte dois utopistas - ingênuos? - com mentes privilegiadas como Oscar Niemeyer e Darcy Ribeiro, e outra medíocre, peseudo-utopista, mas manipuladora e beligerantes, como Leonel Brizola e veja no que resultou uma idéia ideal, mas fora da realidade brasileira.
Essas mentes “privilegiadas”, capitaneadas por Darcy Ribeiro, resolvem fazer, no Brasil, uma escola européia, onde o estudante carente tinha uma jornada de oito horas diárias com o que havia de melhor em termos materiais. Eles estavam certos, mas daqui a uns 100 anos, talvez. No momento o que o Brasil precisa é apenas mais salas de aula minimamente equipadas – um quadro negro, giz e um professor bem remunerado.
Os CIEPs foram criados na década de 80 por Darcy Ribeiro, quando era Secretário da Educação no Rio de Janeiro, no governo de Leonel Brizola. O objetivo era proporcionar educação, esportes, assistência médica, alimentos e atividades culturais variadas, em instituições colocadas fora da rede educacional regular. Além disso, estas escolas deveriam obedecer a um projeto arquitetônico uniforme. Alguns estudiosos acreditam que, para criar os CIEPs, Darcy Ribeiro havia se inspirado no projeto Escola-Parque de Salvador, de Anísio Teixeira, datado de 1950.
A idéia dos CIEPs considerava que todas as unidades deveriam funcionar de acordo com um projeto pedagógico único e com uma organização escolar padronizada, para evitar a diferença de qualidade entre as escolas. No entanto, o projeto dos CIEPs recebeu muitas críticas, entre elas algumas referentes ao custo dos prédios, à qualidade de sua arquitetura, sua localização, e até sobre o sentido de um período letivo de oito horas. Muitos acreditam que o projeto arquitetônico tinha primazia sobre o pedagógico, sobretudo pela ausência de equipes de educadores qualificados para esse projeto educacional.
Os CIEPs ainda existem com este nome mas, no governo de Fernando Collor de Melo, novas unidades passaram a se chamar CIACs (Centros Integrados de Atendimento à Criança). A partir de 1992, estes últimos passaram a ter novo nome - CAICs (Centros de Atenção Integral à Criança). Ao todo, foram construídos cerca de 500 CIEPs e 400 CIACs
Não é crime ser utopista. Crime é sacrificar recursos financeiros, tempo e vidas humanas para tentar colocá-las de pé. E tudo porque aceitamos essas utopias candidamente devido à preguiça mental.
Neste exemplo dos CIEPs vemos como os utopistas pensam e agem: É óbvio que ninguém teria coragem de dizer a Niemeyer que o projeto pedagógico teria primazia sobre seu projeto arquitetônico, Afinal, aquilo era uma mega vitrine de sua arquitetura! A Darcy Ribeiro, era absolutamente necessário que ele deixasse uma marca como Secretário da Educação de um dos Estados mais adiantados da União, há época. E a Brizola, interessava o título de estadista, que perseguiu até o fim da vida sem conseguir colá-lo à sua imagem de político. Por essa razão ele repetiu sua experiência de construir escolas como fizera no Rio Grande do Sul décadas antes, porém numa vitrine muito mais exposta. Como se vê, interesses financeiros, megalômanos e políticos são comuns aos utopistas. O resultado? O previsto: Elefantes Brancos abandonados, uma queima absurda de verbas públicas de nenhum resultado prático para o povo, para quem os utopistas dizem estar sempre a serviço.
Enfim, muito depois de Morus vieram Marx e após ele, vieram toda a idiotice que a falta do pensar gerou. Não houve mais idéias novas a respeito da utopia “comunismo” depois de Marx. Houveram apenas apropriações indébitas de idéias cujas conseqüências a estupidez dos que as usurparam sequer está apta a medir.

A única exceção talvez seja Antonio Gramisci, um pensador Italiano cujas idéias influenciam todos os ideais revolucionários atuais.
Segundo a percepção de Gramsci, nas sociedades ocidentais a hegemonia cultural provém principalmente da sociedade civil, através da formação e manutenção de aparelhos privados de hegemonia, como as igrejas, escolas, universidades e associações, dentre outros, que tornam muito mais difícil uma tomada do poder político "de assalto", como ocorreu na Rússia 1917. Desta forma, Gramsci amplia a concepção de Estado proposta por Marx, pois diferentemente deste, ele não considera a sociedade civil apenas como parte da "Base" ou "Infra-estrutura" econômica, mas como uma esfera de mediação entre a superestrutura e a infra-estrutura tais quais concebidas por Marx. Essa hegemonia cultural nas sociedades ocidentais explicaria, de certa forma, a dificuldade de ocorrerem revoluções socialistas em países dotados de sociedade civil altamente organizada, como na Alemanha ou na Inglaterra.

Vai daí que os seguidores de Gramisci, ao tentarem tomar o poder, primeiramente enfraquecem a sociedade civil, desorganizando-a e esfacelando-a, através não da luta armada, mas muito frequentemente através do poder econômico, numa espécie de “farra” onde o poder, uma vez atingido, como no Brasil, permite que o capitalismo potencialize o que tem de pior: a cruel concentração de renda, aumentando assim o fosso social e criando os elementos essenciais para uma revolução.

E tudo isso porque nossas mentes preguiçosas se recusam a pensar! E a fazer perguntas simples, como: Será que as coisas são assim mesmo como as vejo? Será que elas tem o ritmo, a forma, o alcance e o objetivo que me dizem? E por não mais questionamos, intuímos, pensamos, vamos mergulhando cada vez mais na imbecilidade com a qual contam nossos dirigentes para nos enganarem.

Questões óbvias estão diante de nós e não as questionamos. Por exemplo: A vida dos cubanos melhorou depois que Fidel Castro desceu das montanhas e tomou o poder há cinqüenta anos? O que antes era uma terra onde os americanos despejavam milhões de dólares em turismo, hoje é terra de ninguém, com um ditador cujos discursos duram horas, e ai de quem tentar deixar a multidão antes do seu final. Aliás, Com Stalin não era diferente. Ele mandava prender quem se ausentasse dos seus discursos ou não batesse palmas ao final de suas falas. Ou seja, antigos utopistas transformados em déspotas sanguinários. E tudo porque não há utopia que resista à natureza humana da avidez pelo poder puro e simples.

Aristóteles e Platão já diziam que a marca da tirania é a ilegalidade, ou seja, a violação das leis e regras existentes pela quebra da legitimidade do poder. Ao atingir o poder, o tirano revoga a legislação em vigor, sobrepondo-a com regras estabelecidas de acordo com as conveniências para a perpetuação deste poder. Eles descrevem a tirania na Sicília e na Grécia antiga, cujas características assemelham-se das ações tomadas pelas modernas ditaduras. Segundo eles, os tiranos são ditadores que ganham o controle social e político despótico pelo uso da força e da fraude. A intimidação, o terror e o desrespeito às liberdades civis estão entre os métodos usados para conquistar e manter o poder. A sucessão nesse estado de ilegalidade é sempre difícil.

Mas Aristóteles era um pensador, coisa que os ditadores não são. Ditadores utopistas não vêem além de sua própria geração. Eis porque o filósofo atribuiu a vida relativamente curta das tiranias à fraqueza inerente dos sistemas que usam a força sem o apoio do direito.
Maquiavel chegou à mesma conclusão que Aristóteles sobre as tiranias e seu colapso. Ele afirmava que a tirania é o regime que tem menor duração, e de todos, é o que tem o pior final.
Então, a melhor proteção contra a mediocridade, é o exercício do livre pensamento. E foi pelo sagrado direito de pensar que nunca me curvei a esses discursos socialmente melosos, que prometem o paraíso com pouco esforço. Mas, para o livre pensar é necessário não ter medo de ser posto à parte dos “engajados” ou de ser rotulado de covarde ou qualquer outra rótulo do gênero.

Perdi muitos amigos que se deixaram seduzir pelos idéias comunistas apenas por temerem ser rotulados de burros, e que assim, se deixaram apaixonar pelos ideais revolucionários do marxismo e comunismo. Eu, por outro lado, jamais me deixei enganar pela falácia revolucionária. Muito jovem ainda, idos de 1968 – eu era tido como uma figura ambígua, porque era o único que discordava do ideário comunista, que há época vivia tentando aliciar para suas fileiras os jovens estudantes. Recebíamos muitos panfletos revolucionários, cartilhas e toda uma doutrinação nos explicando o mundo ideal do socialismo total.

Cedo percebi que todos os que se metiam nessa catequese eram pessoas medíocres, e geralmente mal sucedidas financeiramente, que não tinham as habilidades intelectuais necessárias para competir num sistema - o capitalismo - que lhes exigia competência. Então sempre vi o movimento revolucionário como uma confraria de incompetentes que se juntavam em blocos, em movimentos, que lhes propiciasse alguma chance de sucesso que individualmente não conseguiam alcançar. Obviamente, raciocinava eu, um movimento nascido da mediocridade só poderia obter resultados medíocres. Vejam bem, isso num tempo em que a União Soviética rivalizava em poder e pujança econômica com os Estados unidos.

Finalmente tive acesso a uma grande quantidade de informação não filtrada, e pude ver que a história não era bem assim como nos contavam. Pude perceber as idiossincrasias do sistema soviético, as deformidades do sistema, bem como a verdade sobre a revolução chinesa de Mao Tsé Tung, que amontoava livros em praça pública e os queimava, vista por gente muito mais próxima que meros tradutores. Mas como eu poderia informar tudo o que descobria aos meus amigos, se todos estavam seduzidos por um mundo cor-de-rosa que o comunismo prometia?

Então começou a tomar forma um fenômeno que perdura até hoje: A aura de glamour, poesia, humanidade e idealismo que acompanha os ideais e os próprios revolucionários até hoje. Vide a estampa de “Che” Guevara.

Pessoas como eu, que viam mais claro e que tinham a real noção do que estava acontecendo passaram a ser consideradas não-engajadas, alienadas por assim dizer, da realidade cruel que o establishment criava. E começaram as falácias de Um Novo Mundo, Uma Nova Era, quando na verdade tudo nada mais era do que o grito dos incompetentes - no sentido de não conseguirem competir - que não conseguiam vencer nas regras do capitalismo. Então essas mentalidades tacanhas resolveram criar outro sistema, com outras regras - as suas - nas quais pudessem ter chance de sucesso.

Para termos uma idéia do quão enganosa era a propaganda comunista, nunca foi divulgada uma distorção séria de um dos ícones do sucesso do comunismo soviético: Um dos indicadores do sucesso industrial soviético era a quantidade de matéria prima que o país transformava. Eram números que rivalizavam - e às vezes superavam - os dos Estados Unidos. O que não aparecia na imprensa do Brasil era o fato de que a produção industrial soviética era medida pelo consumo de matérias primas, porque esta era controlada pelo Estado, e portanto era a única indicação que o Estado tinha para medir seu desempenho industrial. Isto porque, com o advento da presença do Estado em todas as atividades produtivas, eles virtualmente não exerciam fiscalização no destino dessas matérias prima. Ora, como o resultado de uma fábrica soviética era medido pela matéria prima que transformava, as fábricas passaram então a gastar matéria prima desnecessária para produzir seus bens. Então uma panela de cozinha soviética tinha sua parede de alumínio com o dobro ou o triplo da espessura de suas congêneres americanas. E assim fizeram com todos os outros bens, da lataria dos carros à infra-estrutura do país. Ou seja, era um país que estava enganando a si mesmo.

Diante disso eu vivia repetindo que a queda da União Soviética era uma questão de tempo. E perdi muitos amigos por causa disso. Até que fui ficando isolado ideologicamente e resolvi tocar minha vida sem me preocupar com essa droga toda. Ou seja, comecei a parar de pensar.

Como minha natureza sempre pendeu para as artes, especialmente a música, a literatura e as plásticas, era justamente ali que eu via proliferar os ideais esquerdistas. E me decepcionava quando via Chico Buarque, Veloso ou Vandré dizendo besteiras e acusando a direita, como se as ações da direita não fossem um simples reflexo das ações da esquerda. Ou seja, Genoíno e Dirceu seqüestrando, podia, o exército dispersando uma multidão de revoltosos, não podia. Lula se apoiando nas leis do Estado que criticava e combatia para permanecer sem trabalhar, como diretor de sindicato, podia; dissolver o parlamento, que era um antro de esquerda, não podia. Eis porque hoje, Chico Buarque, Gil, Caetano e todas aquelas vozes da resistência, permanecem mudas. Por dois motivos. Porque reclamar significa assumir a própria burrice, e porque está muito bom como está, com os Criadores do Novo Mundo finalmente no poder, a lhes facilitar a vida financeira. Gil, por exemplo só poderia ser Ministro da cultura de um governo medíocre, porque não obstante à sua brilhante carreira musical – da qual sou fã – ele não tem idéia do que cultura seja, confundido-a com divertimento.

E é assim, por pararmos de pensar, que acabamos por acreditar que Lula perdeu a batalha pela CPMF no Senado. Mas se você parara para pensar, logo verá que no dia seguinte à votação, a oposição acenava com a possibilidade da criação da CPMF 2008.

Porém, nenhum órgão da imprensa fez barulho em torno disso! A coisa vai rolar em silêncio, exatamente como os parlamentares queriam. Essa é a maior armação que eu já vi no Congresso Nacional. Uma armação que mostra quão fechados estão todos aqueles pseudo-utopistas que ganham votos com promessa de um futuro imediato utópico. E o que vemos é direita e esquerda – digladiando-se como urubus sobre a carniça do erário público, em torno dos próprios interesses.

E o povo que eles dizem representar? Bem, amigo, o povo, fica para ser manipulado pelos espertalhões das próximas gerações, se elas forem como nós e não aprenderem – ou decidirem – a pensar!

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JB Xavier
Enviado por JB Xavier em 15/12/2007
Alterado em 16/01/2011


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